sábado, 22 de outubro de 2011

Crônica sem nome

             Raios e trovões enchiam o céu daquela tarde de segunda, o vento gélido invadia as cortinas da janela da frente e as balançavam num balé incomum. O corpo estendido na banheira aquecida, rodeado de pétalas de rosas e espumas de sabão, cantarolava sorrindo uma melodia qualquer desconhecida, enquantobebericava uma taça de vinho vagabundo que comprara na esquina.
             O piso de madeira velha e corrida rangia a cada passo que sobre ele deslizava.
             A lua no céu apontava.
             Foi-se a tarde...
             Desce a noite esplêndida e iluminada sobre a rua, tudo é silencioso como sempre. Apesar da grande nostalgia de cenário, não há depressão em seus olhos, há comtemplação em admirar sua beleza.
             A mistura de raios com o barulho dos trovões juntava-se à noite de luar solitário com o frio vento de inverno.
             Uma noite de solidão!
"A vida é muito curta pra se arrepender..."
             Lembrara daquela frase que alguém um dia havia sussurado em uma canção qualquer que ouvira. Como gostaria de escrever o que sentia...o que via ou mesmo o que sonhava. Sabia que o ponteiro do relógio acelerava a cada trovoada, e sabia que parava, a cada suspiro profundo que retribuía.
             Seria mais um longo inverno chuvoso e triste. Chuvoso e triste como a beleza de todos os outros que já vieram, afinal, onde estaria a beleza dos invernos tristes se não fosse a chuva que nele caía!?

Teus Olhos

Foi neles que me perdi
Ao anoitecer
E neles me encontrei
Ao amanhecer.

Dentro deles perdi o mar,
A lua e o sol...
Meus castelos e joias
Mais raras eu perdi.

Perdi minha alma
...Eu perdi...
Negros, vivos, hipnoze profana.

Perdi-me em teu olhar
E no mesmo me encontrei
E entreguei.

O tempo não para

21:30 h
A chuva começa a cair fina e lenta junto a brisa fria que sem deixar que eu perceba me envolvia por inteira. No ar, podia se sentir o cheiro da carne na brasa que era feito do outro lado do rio. O cheiro vinha chegando sem pedir licença em meio as vozes que se misturavam.
O tempo não passava, ele corria!

22:00 h
Parada no tempo, olhando fixa ao chão, via algo se modificando: a chuva engrossava, o movimento diminuía.
Eu parava no tempo...mas o tempo não parava em mim.
As luzes dos postes clareavam toda a rua.
Carros passavam, pessoas passavam, mas eu continuava intacta.
As horas iam passando, e eu observava tudo, sem cessar. Com olhos de coruja.
O cheiro de carne também passava, e o de terra molhada me subia pelas narinas. A luz dos faróis dos carros que passavam sem ter pressa de chegar, iluminavam meu rosto vazio e deserto. Nas casas, aos poucos se viam as luzes sendo apagadas. Uma lá...outra cá...ainda continuavam acesas, a espera do sono, ou de alguém.
O tempo passava...

23:00 h
A madrugada estava para chegar e metade da cidade já dormia.
A chuva aumentava! A brisa fria se tornava ainda mais fria.
Nada de raios ou trovões, a noite seguia calma.
Para onde foram as estrelas?
Para onde foi minha alma?
Devem ter se escondido, talvez para o mesmo lugar onde se encontra meu coração: perdidos na insensatez.
Talvez!
Às vezes me faço perguntas sem ao menos saber respostas.
Talvez pela falta de incompreenssão ou talvez não.
Não sei...

00:00 h
Apesar de não saber mais o que pensar, nem mesmo o que fazer, eu continuo escrevendo e observando o tempo passar.
A chuva dera uma estiada, o cheiro de carne já passara.
As luzes das casas já haviam se apagado, dessa vez a cidade já dormia por inteira.

01:00 h
Já se vê chegar a madrugada.
Sinto o pesar das pálpebras do meu rosto a procura do sono profundo. Sem pensar em mais nada, repouso o corpo cansado sobre uma rede a balançar, e sem que eu perceba adormeço.
A chuva cessava...
        O tempo parava...
                 Eu sonhava...